sexta-feira, 18 de abril de 2014

A Sórdida Espiral da Exceção



Eu era um jovem rapaz durante a ditadura militar.

No apartamento em que morava na Tijuca -Rio- via abaixo de minha janela a relativamente próxima dependência do quartel da PE, onde era sabido se cometiam diariamente as maiores barbaridades em torturas e mortes.

Quase todo dia ao acordar olhava as instalações pela janela sempre com a mesma sensação de impotência e desconforto.

Mas depois o dia seguia... Trabalho, televisão, um cineminha, um chopinho e por fim dormir. 
E aí, ao levantar da cama no dia seguinte, debaixo da mesma janela, repetia o mesmo “ritual” que achava, iludido,  me penitenciava da minha impotência.  

Mas na medida em que os meses e anos se passavam nem mesmo mais olhava por essa janela e tudo passou a se incorporar e se dissolver nas importantes-inúteis e repetitivas lides cotidianas.

Agora, já velho, numa nova espiral, pelas windows do Facebook, assisto, mais cansado, mas com a mesma impotência, aos descalabros desses impunes "quarteis",  jurídicos, políticos e midiáticos, quer ativa ou passivamente, cercados de vergonhosa e sórdida exceção, omissão e covardia.

Quem sabe, com o tempo, acabe também me acostumando?
Ou...
Morrendo!

Paulo Azambuja

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